segunda-feira, 18 de abril de 2011

Amo poesias...amo quem as escreve e mais ainda...adoraria escrever mais e mais e mais...

Não sei bem porque gosto tanto de poesia...
Tenho realmente fome, necessidade em ler e me identificar com as palavras dos meus autores favoritos.
Acho, que eles dizem melhor do que eu, o que estou sentindo e assim me alimento dos seus poemas
como se eles me fizessem transpor carências e desejos.
Hoje por exemplo estou dividida entre meu sossego interior e meu cotidiano conturbado.
Um reflete minha alma alimentada, satisfeita e renovada e o outro meu dia-a-dia de luta externa,
a mesmice de comportamentos que me deixam imensamente insatisfeita comigo mesma por não conseguiu mudar o que gostaria de mudar.
Essa falta de atitude me remete ao passado e não me sinto bem com isso...
Fico me perguntando porque as pessoas insistem em se trancar num mundo só delas (um mundo diga-se
de passagem ao qual pertencemos ativamente) e de repente preferem nos abstrair desse mundo como se
nada fôssemos...essa atitude me entristece profundamente e me faz refletir...
Bem, como a vida continua, o melhor a fazer é ocupar os pensamentos com o trabalho útil e produtivo não acham?
Até uma outra oportunidade...

Esse é demais!!! Bem o que eu gostaria de dizer...



Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,

que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos

caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos

ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

Hoje quero muita poesia para poder respirar e acalmar meu coração!!!!


Chamo-Te

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que não quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.



Sophia de Mello Breyner Andresen

Trecho do "Poema do menino Jesus"


"Num meio-dia de fim de primavera,
Eu tive um sonho como uma fotografia.
Eu vi Jesus Cristo descer à Terra.
Ele veio pela encosta de um monte,
Mas era outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva,
A arrancar flores para deitar fora,
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir-se
De segunda pessoa da trindade.
Num dia que Deus estava dormindo,
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi até a caixa dos milagres e roubou três:
Com o primeiro,
Ele fez com que ninguém soubesse que ele tinha fugido;
Com o segundo,
Ele se criou eternamente humano e menino;
E com o terceiro,
Ele criou um cristo eternamente na cruz,
E deixou-o pregado na cruz que há no céu,
E que serve de modelo às outras.
Depois ele fugiu para o sol,
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje ele vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita, de riso natural,
Limpa o nariz com o braço direito,
Chapinha nas poças d'água,
Colhe as flores, gosta delas, esquece...
Atira pedra aos burros,
Colhe as frutas nos pomares,
E foge a chorar e a gritar dos cães.
Só porque sabe que elas não gostam,
E que toda gente acha graça,
Ele corre atrás das raparigas que levam as bilhas na cabeça,
E levanta-lhes a saia.
A mim, ele me ensinou tudo.
Ele me ensinou a olhar para as coisas,
Ele me aponta todas as cores que há nas flores,
E me mostra como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão e olha devagar pra elas.
Damo-nos tão bem um com outro na companhia de tudo,
Que nunca pensamos um no outro.
Vivemos juntos os dois, como um acordo íntimo.
Como a mão direita, e a esquerda.
Ao anoitecer, nós brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa.
Graves, como convém a um Deus, e a um poeta.
Como se cada pedra fosse todo o universo,
E fosse um perigo muito grande deixa-la cair no chão.
Depois eu lhe conto histórias das coisas só dos homens.
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ele ri dos reis, e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras e dos comércios.
Depois ele adormece,
E eu o levo no colo para dentro da minha casa,
Deito-o na minha cama,
Despindo-o lentamente,
Como seguindo um ritual todo humano e todo materno,
Até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma.
Às vezes ele acorda de noite,
Brinca com meus sonhos,
Vira uns de perna pro ar,
Pões uns por cima dos outros,
E bate palma sozinho,
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno,
Pega-me tu ao colo,
E leva-me para dentro da tua casa,
Deita-me na tua cama,
Despe o meu ser,
Cansado e humano,
Conta-me histórias,
Caso eu acorde para eu tornar a adormecer
E dá-me sonhos teus
Para eu brincar."
Trecho do "Poema do menino Jesus"
(Fernando Pessoa)